Ensaios em Concreto – Parte 1
Concreto é o nome dado ao material resultante da mistura adequada, conhecido como traço, de cimento, água, agregado graúdo (brita) e agregado miúdo (areia). A composição desse material com barras de aço gera o concreto armado.
Quando em estado plástico ou fresco, o concreto pode ser moldado em formas e dimensões desejadas. Por outro lado, quando endurecido ao final do processo de hidratação do material cimentício, processo normalmente chamado de cura, possui elevada resistência à compressão, da ordem de 20 MPa a 90 MPa.
Por suas vantagens, o concreto armado é atualmente o material estrutural de maior uso ao redor do mundo.
PATOLOGIAS EM CONSTRUÇÕES
Ao longo da vida útil da construção, os desvios de projeto, construtivos, de uso e manutenção, além do processo de envelhecimento natural do material, resultam na deterioração e consequente manifestação de defeitos, como:
- Fissuras;
- Corrosões de armaduras;
- Perda do desempenho, isso é, a perda de características e funcionalidades esperadas da estrutura, ou material, durante a vida útil dele.
Compreender os mecanismos de manifestação e causa de anomalias torna-se, portanto, essencial para a manutenção e operação segura de qualquer estrutura.
Nesse sentido, a abordagem holística de compreensão do material, do projeto, da construção, da utilização e dos processos necessários de manutenção e recuperação das estruturas é comumente denominada como “Patologia das Construções”.
ENSAIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO
Ainda durante a construção das estruturas de concreto, são realizados ensaios de controle de qualidade do material, como é o caso do ‘Slump Test’ e do ensaio de ruptura de corpos de prova amostrados das bateladas de concreto utilizado.
Esses ensaios são utilizados na avaliação da conformidade do concreto em relação aos parâmetros de projeto e construção.
Embora úteis, esses ensaios são representativos de um período limitado da vida útil da estrutura de concreto e possuem alguns obstáculos como:
- Documentação de projeto indisponível para avaliação;
- Manifestação de anomalias da estrutura após longo período em serviço;
- Quando há dúvidas acerca da qualidade do concreto ou da geometria de peças específicas (Ex.: vigas, pilares, lajes, etc.), e/ou suas armaduras;
- Quando é necessário obter detalhes de possíveis anomalias apresentadas durante a operação do ativo.
Nessas ocasiões, a inspeção, a análise estrutural e os ensaios (destrutivos ou não) são de grande importância para a obtenção de uma avaliação adequada do problema existente. Destaca-se que, apenas em posse desse diagnóstico, se torna possível a definição da necessidade e do método de correção adequado.
Conclui-se que o diagnóstico otimiza a vida útil do ativo, aumenta os níveis de confiabilidade, reduz a necessidade de excessivos processos de manutenção corretiva, entre outras vantagens. Além da inspeção visual, e da auditoria de projetos estruturais de concreto, a Kot também realiza ensaios em estruturas metálicas e de concreto. O objetivo deste texto é abordar algumas das metodologias utilizadas pela empresa em corpos de concreto.
ULTRASSONOGRAFIA EM CONCRETO
O princípio de funcionamento do ensaio de ultrassonografia em concreto, mais conhecido como ultrassom para concreto, é a medição do tempo de propagação de uma onda ultrassônica ao longo de uma peça de concreto.
O tempo de propagação é dependente da densidade e módulo de elasticidade do concreto, e alterada em função de:
- Condições de adensamento durante a obra;
- Traço do concreto, condição de cura;
- Anomalias ao longo da peça de concreto.
Para que a velocidade de propagação possa ser mensurada, é necessário um equipamento composto por transdutores eletroacústicos (emissor e receptor) e um computador para realizar a aquisição, tratamento e interpretação dos sinais captados.
Além disso, é necessário conhecer precisamente a distância de propagação para o cálculo dessa velocidade de propagação. A Figura 1 esquematiza este processo.
Tendo isso em vista, o ultrassom em concreto pode ser aplicado para:
- Determinação da homogeneidade do concreto em estruturas;
- Definir áreas onde a investigação mais detalhada é recomendável;
- Monitorar a evolução das propriedades do concreto ao longo do período de serviço da estrutura;
- Determinar os módulos de elasticidade do concreto em serviço.
A Figura 2 exemplifica um resultado do ultrassom em concreto.
Na hipótese de descontinuidade na peça, a ultrassonografia pode ser útil para realizar a definição da ocorrência e investigar a profundidade de propagação de fissuras ou de vazios. Esse processo é ilustrado na Figura 3.
Outra aplicação bastante útil, é a utilização da ultrassonografia para a estimativa da resistência à compressão do concreto, procedimento que pode ser complementado pelo ensaio de esclerometria e extração de testemunhos.
Essa abordagem é particularmente interessante para o comissionamento e investigação de estruturas de grande dimensão e/ou grande responsabilidade, como é o caso de:
- Pontes, viadutos e outras Obras de Arte Especiais como:
- Túneis, ferrovias e rodovias;
- Prédios para o suporte de equipamentos (britadores, silos, moinhos, etc.) e outros processos.
Esse ensaio é padronizado pelo conjunto normativo brasileiro e internacional. Ainda assim, é imprescindível o entendimento do comportamento estrutural e da interpretação dos dados obtidos.
TOMOGRAFIA ULTRASSÔNICA DO CONCRETO
Ao longo dos últimos 30 anos a tomografia ultrassônica do concreto, ou tomografia em concreto, vem se difundindo como ferramenta para investigação não destrutiva de peças estruturais em concreto.
Segundo White, a tecnologia é historicamente utilizada na definição da espessura de peças de concreto, módulo de elasticidade, conformidade executiva e detecção de anomalias.
O método baseia-se na emissão e recepção de ondas ultrassônicas por meio de uma matriz de transdutores. Ao longo do caminho de propagação em um meio não homogêneo (como o concreto), são obtidas refrações e reflexões que podem ter a localização triangulada e também avaliadas quanto ao nível de ‘resistência’ à propagação da onda.
Com esses dados, utiliza-se um software para realizar a construção de imagens bidimensionais da seção ensaiada. A Figura 4 exemplifica esse processo.
Nessa configuração, imagens mais próximas de tons avermelhados indicam regiões de maior heterogeneidade, como
- Desplacamentos;
- Vazios;
- Barras de reforço.
Por outro lado, tons mais azuis indicam áreas de baixa reflexão, isso é, com maior homogeneidade. A Figura 5 exemplifica um resultado de ensaio.
Os aparelhos mais modernos possuem transdutores cerâmicos que dispensam o uso de acoplante e apresentam uma larga banda de frequências disponíveis, significando versatilidade na investigação de diversas geometrias e tipos de concreto.
Outra grande vantagem deste ensaio é a possibilidade de investigação de estruturas com apenas uma face acessível, por exemplo:
- Investigações em paredes de túneis estruturais de concreto;
- Conferência do grauteamento de bainhas para armadura ativa em pontes protendidas;
- Investigação de defeitos e descontinuidades em peças de concreto em geral, como em vigas, pilares e lajes;
- Medição da espessura de peças de concreto onde apenas uma das faces é acessível.
PACOMETRIA
A pacometria é o ensaio que utiliza a indução eletromagnética para avaliar a presença, o cobrimento e, em alguns casos, o diâmetro das barras de reforço (armaduras) em peças de concreto armado.
Os pacômetros comerciais podem ser divididos em duas classes, sendo:
- Baseados no princípio de relutância magnética;
- Baseados na medição de correntes parasitárias.
Medições baseadas em correntes parasitárias são possíveis devido ao fato de que quando um campo magnético é aproximado de um material condutor, são despertadas correntes elétricas (parasitárias) neste material condutor.
Por sua vez, as correntes parasitárias alteram a configuração do campo magnético original. De forma prática, essa alteração é então interpretada de forma a indicar a presença de uma barra de aço, conforme ilustrado na Figura 6 e Figura 7.
A Kot Engenharia possui aparelhos com produtividade adequada para a realização de ensaio em peças de grande área, como são os casos de lajes, todavia, o mais usual é que este procedimento seja realizado em menores áreas de forma a:
- Auxiliar a realização de ensaios de ultrassonografia ou pacometria;
- Controlar a qualidade em relação ao posicionamento e cobrimento de barras de reforço após a concretagem de peças;
- Investigar estruturas onde a documentação de projeto não está disponível;
- Retirar testemunhos de estruturas em serviço (a ser comentado em próximo postagem);
- Localizar materiais ferromagnéticos embutidos em concreto (tubulações, insertos, etc.).
As limitações desse método apresentam-se em algumas situações, como:
- Na investigação de áreas com alta densidade de barras ou com presença de campos eletromagnéticos secundários;
- A leitura do diâmetro das barras, quando possível, pode ser dificultosa;
- A investigação da segunda camada de barras para reforço é quase sempre inviável.
Dessa forma, é possível afirmar que a realização deste ensaio requer conhecimentos acerca do método e de sua aplicação.
Com a leitura do texto é possível concluir que não basta ter equipamentos modernos e tecnológicos para realizar uma avaliação estrutural correta. Além das ferramentas, é necessário dominar os conceitos, desde os de fundamentação até os que envolvem a leitura e interpretação dos dados aquisitados.
Nesse sentido a Kot Engenharia pode auxiliar, tendo os equipamentos adequados e a mão de obra especializada para a execução de serviços. Entre em contato com a equipe da empresa.
Deseja ler mais sobre concreto, seus ensaios e como a Kot pode ser útil? Acompanhe o Blog e LinkedIn da empresa! O próximo artigo a ser publicado será a Parte 2, contendo outras metodologias de ensaio para corpos e/ou estruturas de concreto.
Siga também nossas páginas no LinkedIn, Facebook e Instagram para continuar acompanhando nossos conteúdos.
Referências:
[1] SILVA, Ney. Concreto armado. Notas de aula – Universidade Federal de Minas gerais. Belo Horizonte, 2021.
[2] PFEIL, Walter. Concreto armado Vol. 1. Rio de Janeiro: LTC, 1985.
[3] IAEA. Guidebook on non-destructive testing of concrete strutures. Vienna: IAEA, 2002.
[4] SOUZA, RIPPER. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1998.
[5] MACDONALD, Susan. Concrete: Building Pathology. Oxford: Blackwell Science, 2009.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR 8802: Concreto endurecido – Determinação da velocidade de propagação da onda ultrassônica – Método de ensaio, 2019.
[7] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI 228.2R:2013: Report on Nondestructive Test Methods for Evaluation of Concrete in Structures.
[8] WHITE, Joshua Benjamin. Ultrasonic tomography for detecting and locating defects in concrete structures. 2012. Theses – Master of Science, Texas A&M University, 2012.
Equipe Kot Engenharia
Com mais de 30 anos de história e diversos serviços prestados com excelência no mercado nacional e internacional, a empresa promove a integridade dos ativos dos seus clientes e colabora nas soluções dos desafios de Engenharia. Para essa integridade, utiliza ferramentas para o cálculo, inspeção, instrumentação e monitoramento de estruturas e equipamentos.
Deixe uma resposta